21 de maio de 2013


X DA QUESTÃO


A discussão do momento é sobre a venda de ingressos para o trem do Corcovado, mas o “X” da questão é outro. Não sejamos tolos, pensando que tudo o que vivemos hoje na cidade do Rio de Janeiro é fruto da boa vontade e boa intenção de nosso alcaide, imaginando que ele será um benfeitor histórico.
Como diz um velho ditado, ainda tem muita lenha para queimar, o que significa que essa história ainda está longe do final.
O estado de exceção no qual vivemos hoje em dia não está preocupado com a real qualidade de vida dos seus cidadãos, apesar desse ser o principal argumento para a maioria das intervenções feitas na cidade. Mais do que isso, a Cidade Maravilhosa não pode perder a oportunidade da sua história, a redenção. Mas em alguns aspectos não evoluímos nada desde 1808, quando a chegada da família real portuguesa representou um choque na sociedade carioca.
Por ser colônia, o convívio com a metrópole era de respeito, não cabendo tampouco direito a expressar suas opiniões.  Realidade típica de uma monarquia absolutista, que tortura em praça pública quem se dignar a levantar a voz contra seus interesses.
Estamos em 2013, a internet e a democracia nos permite fazer nossas opiniões chegarem ao além-mar em poucos segundos. Mas na maioria das vezes não conseguimos fazer com que nossos desejos sejam realizados, sendo obrigados a aceitar que projetos aquém das necessidades reais da cidade, sejam responsáveis por tanta incompetência e corrupção.
O Maracanã, o aeroporto, a zona portuária e o autódromo, são exemplos dessas intervenções. Há ações interessantes e que a grande maioria apoia, como a proibição da circulação das vans por determinadas áreas da cidade.  Mas a decisão de proibir a venda de ingressos para o trem do Corcovado na estação do Cosme Velho, talvez por causa da proximidade desta com o Museu de Arte Naif, foi a decisão mais ingênua e tola que um prefeito poderia tomar.
Aquela região é historicamente conturbada, já que o atrativo turístico mais importante do país, um dois mais importantes do mundo, tem como principal acesso a estação do Cosme Velho. Houve uma época que a Praça São Judas Tadeu tinha baias para embarque e desembarque de veículos de turismo, época muito anterior das construções dos prédios residenciais que hoje circundam a praça. Mas foram os moradores dos arredores que pressionaram as autoridades, transformando a praça em um ambiente que serve para o lazer dos moradores, assim como uma sala de estar para visitantes do Brasil e do mundo.
Daí em diante os ônibus de turismo começaram a embarcar e desembarcar nas laterais das pistas de subida e descida, tendo sido na ultima temporada a mais recente proibição. Aos sábados, domingos e feirados, o embarque e desembarque de grupos deve ser realizado no terminal rodoviário do Cosme Velho, o mesmo aonde operam os ônibus urbanos que ali fazem ponto final.
A ideia de utilizar o terminal rodoviário de ônibus urbano para o turismo também é antiga, mas com uma infraestrutura melhorada, evitando situações constrangedoras que, apesar dos controladores de tráfico que atuam com boa vontade no local, continuam acontecendo.
Mas hoje, dia 21 de maio de 2013, mais uma vez de forma improvisada, cabines foram instaladas em alguns lugares da cidade para a venda dos bilhetes para o trem e para o acesso por van ao monumento.  Segundo o secretário de turismo Rodrigo Bethlem, um jovem político que atua na cidade desde que foi escolhido por seu padrinho Cesar Maia, o mesmo mentor do atual prefeito, diz que estão em andamento negociações com as lotéricas para que a venda seja feita por toda a cidade.
A compra feita pela internet vai obrigar que o visitante ainda se dirija ao guichê do Cosme Velho com o voucher impresso, para trocar pelos bilhetes. Está será a única operação naquela bilheteria.
Agências e guias de turismo, que adquirem os bilhetes através de vouchers em uma bilheteria exclusiva, levando hordas de turistas o ano inteiro, ainda não tem claro como vão operar daqui por diante. Na alta temporada temos agências que compram por faturamento milhares de bilhetes por dia, todos os dias. Seria essa operação obrigada a ser realizada pela internet? Ou seria numa cabine dessas espalhadas pela cidade? Ou seria melhor tirar esse atrativo do roteiro dos turistas?
Parando para pensar um pouco, sem fazer muito esforço, nos damos conta que a Estrada de Ferro do Corcovado – ESFECO, uma concessão histórica, está sendo pressionada e colocada contra a parede.
É certo que em vários aspectos a visita ao Cristo Redentor deixa muito a desejar em termos de qualidade, principalmente na estrutura das estações. Isso sem falar do próprio trem que apesar de charmoso, já deu o que tinha que dar. Mas se até hoje o governo não encontrou maneiras de expulsar a atual concessionária da administração do trem, esse parece ser o golpe fatal.
Deixando o nosso lado naif de lado, não é difícil imaginar que alguma outra empresa poderia vir a ser beneficiada, ganhando de presente tal concessão. Por isso, o “X” da questão pode ser apenas um código, uma pista nessa caça ao tesouro. O tesouro, que nesse caso é o próprio Rio de Janeiro, parece estar sendo preparado para que essa novela tenha um final felix. Isso mesmo, felix com o mesmo X que já desfigurou o histórico Hotel Glória, que ganhou de lambuja a administração do nosso Maraca e que vem tentando dominar a Marina. Tudo com o aval dos megaeventos, tudo com suspeitíssima participação dos governos municipais, estaduais e federais.
A Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar – C.C.A.P.A. que se cuide, mas esse por sua vez tem feito melhorias constantes, o que pode adiar esse terrorismo. 

2 comentários:

  1. Assino embaixo de cada parágrafo.
    Análise clara e objetiva dos questionamentos que nos fazemos no momento.
    Este texto deve ser lido por cada colega, cada um envolvido no trade, pelas rádios e TV's (não comprometidas com os citados, o que seria um número ínfimo).
    Temos que acordar essa gente para uma nova "monarquia" que se estabelece em nossa cidade, estado e país. O rei está nu e podemos ver os cifrões tatuados em seu corpo (ou, no caso do Rio, os X's).
    Aqui no Rio, o rei já foi escolhido.
    E se você, sua casa, seu negócio estiver no caminho real, você acordará com um PR á sua porta, sem nenhum questionamento ou escolha.

    ResponderExcluir
  2. Concordo plenamente contigo, lembrando mais um pequeno detalhe político - quem controla a Esfeco e a BelTour? A familia Neves. Quem é o principal membro, pelo menos politicamente , da familia? O senador Aecio Neves, adversário político do PT, cujo maior aliado (?) é o PMDB.
    Já imaginou a propagando do Alvalade, dizendo que "finalmente tirou a exploração do Corcovado das mãos da familia Neves " ?
    Posso estar errado, mas ceio mais uma armação por trás disso!

    ResponderExcluir