Eis que de repente, numa tacada de mestre, aparece nada mais, nada menos, do que a marca da Unicef no tal manto. Um bom exemplo, propaganda de um famoso benfeitor.
A benfeitoria dura até os idos de 2010, para no ano seguinte, mais uma vez de forma surpreendente, o anúncio ser da Qatar Foundation...
Um acordo de 170 milhões de euros, por um período de cinco anos. Só que antes do término desse contrato, em 2013, eis que aparece naquela camisa Qatar Airways, uma companhia aérea do governo do Qatar.
O Qatar é um emirado absolutista e hereditário, comandado pela Casa de Thani desde meados do século XIX. As posições mais importantes no país são ocupadas por membros ou grupos próximos da família al-Thani. Em 1995 o xeque Hamad bin Khalifa Al Thani tornou-se emir após depor o próprio pai, Khalifa bin Hamad al Thani, em um golpe de Estado.
Coincidências à parte, quando o Neymar é comprado pelo PSG - Paris Saint-Germain é que a camisa do Barcelona passa a exibir outra marca, a Rakuten, um conglomerado tecnológico japonês que oferece serviços como compras, exibição de vídeos online e diversos outros serviços. A empresa também mira em múltiplas ofertas de conteúdo digital, combinadas aos seus serviços de plataforma de e-commerce e finanças.
Já a maior coincidência fica por conta do PSG, que pagou 222 milhões de euros da multa contratual, tirando o craque brasileiro da Catalunha e levando-o para Paris. Mas o time francês já não é tão francês assim, hoje seu dono é Nasser Al-Ghanim Khelaifi, um empresário do Qatar que, além de outras funções, já foi diretor da Al Jazeera, a maior emissora de televisão jornalística do Qatar, a mais importante do mundo árabe. Criada em 1996 por Hamad bin Khalifa Al Thani, emir do Qatar.
No Qatar vale a lei xaria, nome dado ao "direito islâmico", onde não há separação entre religião e o direito, onde todas as leis são fundamentadas na religião e baseadas nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos.
Por outro lado o Qatar permitiu que o Taleban afegão criasse um cargo político no interior do país e tem laços estreitos com o Irã. De acordo com documentos vazados e publicados pelo The New York Times, os esforços no combate ao terrorismo islâmico do Qatar eram o piores da região. Ainda segundo esses documentos, o serviço de segurança do Qatar foi hesitante em agir contra terroristas conhecidos, devido a preocupação de parecer estar alinhado com os Estados Unidos e de provocar represálias.
É por essas e outras que o mundo se volta contra esse país, por considerar que ele esteja patrocinando grupos terroristas com a dinheirama do petróleo. A mesma dinheirama que foi capaz de ocupar o noticiário mundial por quase um mês, quando se desenrolava a novela Neymar.
E é exatamente em Paris, na cidade e no país onde vimos alguns importantes e trágicos ataques terroristas acontecerem recentemente, que que está instalado o principal braço midiático do Qatar. As filas para comprar a camisa que hoje ostenta a propaganda de outra empresa aérea, a Emirates, baseada nos Emirados Árabes Unidos.
Os Emirados Árabes Unidos são um país formado por uma confederação de monarquias árabes, cada um detendo sua soberania, chamadas de emirados, algo equivalente a principados.
Dito isso, pergunto:
Essa transferência do Neymar tem algo de imoral ou amoral?
Essa transferência do Neymar tem algo de ilícito?
Essa transferência do Neymar tem algo de errado?
E se o PSG for campeão, o Neymar poderá voltar a usar aquela faixa na cabeça fazendo referência ao maior símbolo da cristandade?
A verdade é que ninguém que saber dessas coisas, ninguém quer saber se estão apenas lavando dinheiro sujo de sangue, ninguém quer levar a sério algo que parece preocupante e repugnante.
As pessoas preferem voltar suas armas e usar toda munição contra a Venezuela, contra a Síria, contra o Lula e contra o treinador do seu pobre time local, mas assistem orgulhosas a novela que transforma aquele menino de Santos, no maior negócio da história do futebol.
Como diziam os de fala anglo-saxônica:
MONEY TALKS, BULLSHIT WALKS !!!
Em bom português: A conversa barata não o levará a lugar nenhum, enquanto o dinheiro pode persuadir as pessoas a fazer o que você quiser.
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